sábado, 7 de janeiro de 2012

Meu Jogo Inesquecível: Otto recorda fim do jejum de títulos do Náutico

Cantor pernambucano, que chegou a integrar as categorias de base do Timbu, lembra empate por 0 a 0 com o Santa Cruz em 1984

Por Elton de Castro Recife
Cantor, compositor e ator, o pernambucano Otto Maximiliano Pereira de Cordeiro Ferreira, ou simplesmente Otto, é uma verdadeira metralhadora cultural. Conversar com ele é como abrir um baú repleto de histórias e referências. Em apenas meia hora de diálogo foi possível percorrer do capitalismo ao futebol, passando pelo ludismo, sem perder o foco inicial da conversa: seu amor pelo Náutico, que voltou à Série A do Brasileiro. Nascido em Belo Jardim, no Agreste de Pernambuco, Otto mudou-se para o Recife aos sete anos de idade, e foi na capital pernambucana que o cantor conheceu uma de suas grandes paixões: o Clube Náutico Capibaribe.
E a paixão por pouco não virou profissão. Ainda criança, Otto passou a jogar futebol em times das escolas por onde estudou até chegar ao time de futebol de salão do Náutico. Pouco depois, foi se aventurar nas categorias de base do clube, na década de 1980. Entretanto, o “talento” como centroavante não chegava a ser brilhante e, aos poucos, a bola foi sendo trocada pelo palco. O passado futebolístico lhe faz ter boas recordações.
otto náutico (Foto: Tiago Medeiros / Globoesporte.com)Otto chegou a integrar as categorias de base do Náutico, mas a carreira não andou. (Foto: Aldo Carneiro)
- Eu cheguei ao Recife com sete anos e não conhecia muita gente, quando comecei a jogar futebol, passei a conhecer muitas pessoas. No Náutico eu me divertia muito, era uma coisa que eu gostava de fazer, foi uma época muito divertida.
Do campo para a arquibancada foi um pulo. E foi justamente como torcedor que Otto viveu a sua maior alegria no Timbu. Diferentemente da maioria, a paixão pelo clube não foi fruto de conquistas, muito menos influência da família, mas sim pelo período vivido nos Aflitos. Tanto que, nascido em 1968, o cantor não chegou a comemorar o titulo do Campeonato Pernambucano de 1974. Depois disso, o clube passou longos dez anos sem conquistar um troféu.
otto náutico (Foto: Tiago Medeiros / Globoesporte.com)Otto faz questão de lembrar o "Hexa é luxo" do Náutico (Foto: Aldo Carneiro)
Nem isso afastou Otto do Náutico. Mas a felicidade de ver o time ser campeão veio no dia 21 de dezembro de 1984. Na época com 16 anos, Otto foi ao jogo que ficou marcado em sua memória até hoje. Mesmo sem gols, o empate por 0 a 0 com o Santa Cruz levou os alvirrubros ao êxtase, e após uma década a torcida voltava a comemorar um titulo estadual. Na memória, flashes da partida e a lembrança dos ídolos do passado.
- Lembro que o Santa Cruz pressionou pra cacete, e o Mazaropi fechou o gol. O nosso time era muito bom, tinha o Baiano, o Denô, mas o jogo não acabava e eu já estava pensando que íamos levar um gol. Mas ainda bem que não levamos. Já imaginou a bronca que seria perder?
Durante o jogo, o Santa Cruz, que perdeu a primeira partida da final por 2 a 1 e tinha que vencer para evitar o título alvirrubro, se lançou para o ataque. Com isso, o Náutico tentava a sorte no contragolpe, mas a bola não queria entrar. Em duas oportunidades, Baiano chegou a ter a chance de abrir o placar, mas não conseguiu concluir para o gol.
Quando o jogo acabou, a gente saiu a pé do Arruda até a sede do Náutico para comemorar em casa"
Otto
Com o fim da partida se aproximando, a catimba tomou conta do jogo, que passou a ter lances violentos. Sobrou até para o árbitro Luís Carlos Félix, que se chocou com o meio-campo Manguinha, do Náutico, e teve que ser levado para o hospital. Em seu lugar, entrou o reserva Abelardo Lucena. Com o atendimento ao árbitro, a demora pelo apito final só aumentou a angústia vivida pela torcida alvirrubra. Tanto que, quando Abelardo Lucena marcou uma falta, os torcedores invadiram o gramado pensando que o jogo tivesse terminado. Ansioso para soltar o grito de campeão, Otto foi um desses torcedores dentro de campo.
- Cara, o tempo passava e o jogo não acabava. E a gente naquela aflição. Aí, o juiz marcou uma falta e a gente foi logo invadindo o campo porque pensamos que o jogo tinha acabado. Foi uma greia.
Com os torcedores em campo, não restou outra alternativa ao árbitro a não ser acabar o jogo. Pouco tempo depois, as ruas do Recife foram tomadas de vermelho e branco. A festa da torcida é algo que não sai da cabeça do artista.
- Oxe, quando o jogo acabou a gente saiu a pé do Arruda até a sede do Náutico, para comemorar em casa. Porque é chato fazer festa na casa dos outros. Foi muita arreação, o povo todo andando, correndo pulando, virou carnaval. Quando chegamos lá na sede, a festa durou a noite toda.
Náutico x Barueri (Foto: Antônio Carneiro)Otto acompanhou o retonro do Náutico à Série A
(Foto: Antônio Carneiro)
A volta à Série A
Atualmente Otto mora no Rio de Janeiro, mas, mesmo longe do Recife, o cantor não deixa de acompanhar o time de coração. Não faz o estilo de torcedor que sabe a escalação na ponta da língua, mas acompanhou de perto a campanha do time na Série B deste ano. E o retorno à Série A empolgou o ilustre torcedor.
- Mesmo morando aqui no Rio eu gosto de acompanhar o Náutico, sim. Voltar à Primeira Divisão foi muito bom, isso nos coloca novamente no topo do futebol nacional.
Criticas à nova arena
Arena Pernambuco (Foto: Divulgação/Arena PE)Náutico vai mandar jogos na Arena Pernambuco
(Foto: Divulgação/Arena PE)
Saudosista não é um rótulo que possa ser aplicado a Otto. Alias, o cantor não caberia dentro de qualquer definição linear. Dono de um vasto repertório musical, o artista inova a cada trabalho lançado. Mas, mesmo longe de fazer o estilo tradicionalista, Otto fez questão de criticar a negociação que fará o Náutico mandar seus jogos na Arena Pernambuco pelos próximos 33 anos. Para ele, o estádio que está sendo construído para a Copa 2014 nunca será a casa do Náutico.
- Esse negócio de sair dos Aflitos para jogar em São Lourenço da Mata (Região Metropolitana do Recife) não existe. Aquilo lá nunca será a casa do Náutico. Já imaginou se o jogo que eu falei fosse hoje? Como seria sair do Arruda para São Lourenço? Isso não existe. Nossa casa é lá na Rosa e Silva, nossas histórias todas foram lá. Ter que sair de sua casa por conta de negociações que só prejudicam o clube não é nada bom. Acho que isso só servirá para prejudicar o Náutico.

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