Técnico Edson Galdino 'adota' dez jogadoras e paga quase 100% do salário para mantê-las. Campanha do time contrasta com a do masculino
O casamento de sete anos do técnico acabou, mas o sonho voou longe. No próximo domingo, às 12h15min, a equipe, campeã da Copa do Brasil de 2010, estreia na Libertadores contra o Sport Girls, do Peru, e o objetivo das meninas é um só: conquistar o título para o “paizão”.

Se sair de noite e chegar depois do horário que eu mandar, não deixo entrar. Ficar na rua"
Galdino
- Estamos nos preparando muito para isso. Se fosse no Rio de Janeiro, tínhamos 98% de chances de sermos campeões. Como é em São José dos Campos, e o time local e o Santos (atual dono do título) jogam, fica mais difícil. Mas acredito muito na minha equipe – afirmou Galdino.
No início, o time não tinha salário nem benefícios. Hoje, o clube paga uma média de R$ 700 para as jogadoras, mais carteira assinada e vale transporte. Galdino acredita que ainda não é o ideal. O técnico conta que a luta é diária para manter o projeto e valoriza cada passo conquistado, contando seus “causos do professor”.

(Foto: André Durão/Globoesporte.com)
A rotina do time não é fácil. No campo, há treinos todos os dias da semana, com turnos duplos em dois dias. Na casa - ainda em fase de construção, com a ampliação de quartos privativos para as meninas -, há uma escala na parede de tijolos do corredor da sala de estar, com a divisão de tarefas domésticas de cada uma. Ainda tem a cobrança pelos estudos e pela educação de Kelly, Karen, Renata, Caneca, Valdinéia, Dai, Fabiana, Dulcinéia, Laiane e Bárbara. suas "filhas". As demais, com média de idade de 19 anos, moram cada um em suas casas separadas, mas também não deixam de serem cobradas pelo professor.
- Isso aqui é uma passagem. Elas têm que entender que precisam de uma profissão para quando não puderem mais jogar. Temos formadas em nutrição, educação física, técnicas em segurança de trabalho. Precisa ter continuidade – afirmou.
Luta contra o preconceito

(Foto: André Durão/Globoesporte.com)
- Já ouvi muita coisa de gente que não entende como uma menina pode querer jogar futebol. Mas agora fecho os ouvidos. Temos até torcida dos meninos do clube. Eles sabem que a gente trabalha sério aqui. Não conheço direito o time masculino do Duque, só pela televisão, já que treinamos em locais diferentes. Mas até que dá um gostinho a mais saber que o clube agora está bem representado pelas mulheres – disse Flaviele, lembrando que todos os amistosos do time são contra equipes masculinas.
A meia, que tem o apelido de Caneca, é natural de Itumirim, município mineiro que fica a 248km de Belo Horizonte, e está no Rio de Janeiro há seis anos. Ela é um dos exemplos para o técnico-pai. Formada em nutrição, é a responsável pela cozinha, com quitutes que fazem as outras meninas pedirem sempre mais. Porém, a mordomia pode estar com os dias contados.
- Namoro há cinco anos. Pretendo casar em breve. Por isso, vou ter que sair de lá. Quero construir minha casa perto delas, mas não vai dar para ficar cozinhando todos os dias como faço hoje (risos) – brincou.
Aposentadoria? Só dos gramados

(Foto: André Durão/Globoesporte.com)
- Cheguei da Bahia com 13 anos. Sem dinheiro, não tinha como ficar. Ia embora. Então, ele me acolheu, me deu condições de terminar o segundo grau na escola. Cresci com ele. É um pai que eu nunca tive – disse.
Como todo pai, Galdino quer deixar seu legado para um filho. Como seus legítimos – são seis – não podem assumir seu projeto, ele pretende passar o bastão para Valdeir, que assumirá como técnico. E já no próximo ano.
Ele pode se aposentar como técnico, mas não como pai"
Kelly
Kelly, uma das jogadoras mais experientes do time, não acredita que isso vai acontecer.
- Ele pode se aposentar como técnico, mas não como pai. Vai sentir muita falta. Não vai conseguir. É a vida dele – disse Kelly.
Galdino garante que comanda o último treino em 2012. Já a última palavra na casa das meninas não sabe quando vai dar. Afinal, pai é para sempre.
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